segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O PODER NAS REPRESENTAÇÕES E O FRAGMENTÁRIO DAS
AÇÕES LIVRES: UMA CONTRIBUIÇÃO AO DESVENDAR DOS
PROCESSOS SÓCIO-HISTÓRICOS E EDUCATIVOS

Paulo Sergio Teixeira
Santos/SP, 29 de agosto de 2011.



Resumo
Assumir a educação através de seus principais representantes (a classe dos professores) pode significar uma ação necessária, urgente e que as atuais condições sobre o país, mais do que nunca, parecem permitir. Para colaborar na composição de um conjunto de ações profícuas neste sentido, é imprescindível que consigamos superar o atual nível de consciência rumo ao desenvolvimento superior de nossa verdadeira função social. Este artigo propõe uma reflexão em torno dos nossos mais recentes processos sócio-históricos envolvendo a educação, onde o professorado, em especial o da Rede Pública, facilmente se identificará com os fatos, podendo a partir daí, formar uma importante opinião a respeito de sua própria prática e de seu papel no corpo social.

Palavras-chave: História; Educação; Sociedade; Teoria e ação política dos professores.



Abstract
Take education trough its main representatives (the class teacher) can mean a necessary action, urgent and that the current conditions on the country, more than ever, seem to allow. To collaborate in composing a set of proficuas action in this sense, it is indispensable that we overcome the current level of consciousness towards the grater development of our real social function. This articles proposes a reflection on our most recent social historical processes involving education where the teachers, especially in public sector, easily identify themselves whit the facts may give birth to there form an important opinion about their own practice and tahir role in the social body.

Key words – History; Education; Society; Theory and political action of teachers.





Sobre direitos, necessidades e continuidades na prática do ensino

Se de Sócrates, em sua paidéia maiêutica; de Platão, na lógica do inato e na academia dos sábios; ou de Aristóteles, em sua política dotada de ética partiram os primeiros insights significativos, julgamo-nos capazes de verificar que a aspiração da ascensão social e da sonhada equidade humana, é já uma tradição presente desde um mítico Caim, que por meio da violência e da astúcia, resolveu o primeiro ato de vantagem despótica.

Que instrumentos teria usado este suposto Caim para sobrepujar seu irmão, sua vítima? Teria sido ele um mero quebra-nozes? Um feiticeiro? Um guerreiro? Um escriba das leis? Político? Comerciante? Certamente não era um agricultor, ou artífice, ou médico, ou contador de histórias, porque destes não é própria a natureza da rapina e da usura como costuma ser dentre os primeiros. Mas se por ventura o fosse, certamente seria já um capítulo à parte da história, um fato dos nossos tempos corrompidos por outras lógicas.

E é preciso rememorar e refletir, porque este mito parece simbolizar a dualidade antagônica estabelecida nos processos sócio-históricos: de um lado, os mais fortes, detentores e cultivadores de poder; do outro, os que somente querem estar e existir, mais fracos (...), sem grandes pretensões e que, circunstancialmente, constituem sempre a maioria.

Acredito ser necessário atentar para que quando surgiu esta tradição de arrogância, deve também ter aflorado, ao mesmo tempo, justamente, o inconformismo e a rebeldia difusa e em diferentes proporções: conflito permanente de várias tendências e formas, e que nos acompanha até hoje.

Marx classificou a isso como “luta de classes” e, para além do seu ativismo, profetizou um porto em que todos os navegantes, finalmente, inevitavelmente, chegariam equânimes: o comunismo. Mas, talvez, na ânsia de revolucionar, apressar este processo, transformar o injusto em justo, enxergou o homem tão somente como um animal produtor/consumidor. Desconfio que, paradoxalmente, desconsiderou seu caráter contemplativo e prático em evolução.

O homem, além de seu materialismo, possui uma faceta importante e inseparável que é o pensar, o produzir cultura, o comerciar ideias e se moldar segundo aquilo em que acredita.

Prescreveu a ideia de superestrutura, permitindo deduzir que somente os detentores hegemônicos do poder possuiriam a capacidade exclusiva de produzir mecanismos de cultura.

Já em Foucault, uma noção distinta desse sugerido axioma:


[...] não existe como matriz geral uma oposição binária e global entre dominadores e dominados, que se corpo social. Alerta para a necessidade de se supor a existência de correlações de força múltiplas que se formam e atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos restritos, nas instituições, servindo de suporte para grandes efeitos de clivagem que percorrem o conjunto do corpo social. (EIZIRIK, 2002; cit. 1995b).


Não há, portanto, uma via de mão única na construção de um edifício cultural sólido, onde seus engenheiros morem sem o risco de invasão dos construtores coordenados. E ainda nesta linguagem: se construírem tão sólido edifício, ele desmoronará, como desmoronaram, por exemplo, os edifícios intimidadores da antiga Roma, durante o neocolonialismo europeu e nas ditaduras totalitárias, que tentaram, sempre sem sucesso na concretização do intento, o fim último de fazer prevalecer uma cultura dita superior e pura, ignorando tudo o que a maior parte do mundo tinha a ensinar e a dizer. Valores jogados fora... E é certo que, sem dó nem piedade, todo o mundo perdeu alguma coisa com isso.

É bem verdade que destas empresas, sempre sobraram resquícios, alguns positivos. Mas o que importa agora é ter a convicção de que, àqueles que as noções predominantes rotulam como os mais receptivos consumidores da cultura, e que supostamente moldados à Deus-dará, são na verdade mais ativos em suas contribuições do que se pensou até bem recentemente. Também eles têm o poder de moldar, inconscientemente ou não, inclusive, os pretensos condutores da sociedade, porque nestes chegam efeitos que desencadeiam ações e refletem sinergias inevitáveis, dos quais os atingidos não podem se esvair nem controlar. Isso porque os mesmos tais vulneráveis, desacreditados, são realmente verdadeiros produtores da cultura, já que em maioria falam, fazem, reagem de uma forma ou outra. E porque selecionam o que querem e o que podem consumir, ouvir, ver, sentir... Sabem todos dizer sim ou dizer não, e dessa rede, ninguém se faz exclusivo. Aqui sugiro ainda a superação daquele mito revolucionário-burguês.

Neste sentido, nenhuma aspiração ancestral tornou-se pura. Longe disso, ao que mais se constata, é uma homogeneização lenta e gradual onde, ultrapassando o espaço da ágora formal, está presente em uma inimaginável ordem caótica. E se isso for para alguém motivo de decepção, vejamos por outro lado: o inevitável descontrole, em se falando de poder, pode significar justamente a maior reserva de segurança para a constituição de uma ordem democrática cada vez mais sólida.

Ora, a homogeneização dos poderes caminha para a remotamente aspirada democracia e nela estamos todos participando, seja lá da forma que for, porque se o déspota ou o corrupto agem com o aparato da força e da lei a seu favor, também outros elementos sociais promovem imperceptíveis e permanentes anarquias. O resultado é a intensidade de uma legítima democracia, progressivamente mais lapidada.

Sabe bem um professor que lida com muitos aprendizes, o quanto também está suscetível aos efeitos ou às respostas do universo de uma classe. Muitas vezes, a constância dos conflitos que exigem respostas imediatas leva todos os elementos de uma classe escolar a uma modelagem recíproca. E é justo mencionar a crença de que nisso também reside a qualidade do trabalho de um professor: na troca de modelos, nas conclusões diárias provenientes dessa reciprocidade.

Engana-se a autoridade que tenta incutir pureza ao espírito de um indivíduo ou de um grupo sem levar em conta o que estes têm a oferecer: a tal “educação bancária”. Ilusão... Quem o tentar fazer, encontrar-se-á frustrado, mais cedo ou mais tarde, porque antes de tudo, já temos clara a ciência de que o ser humano é um animal político. E é possível aí constar, de fato, a necessidade, não de estabelecer controles radicais, mas de se promover radicalmente as trocas constantes de razões e sentimentos.

Essa autoridade pode ser um professor ou um administrador distante, lá em seu gabinete. A diferença está no tempo do micro-processo em si, desde a ação empreendida até a inevitável reação. Tentar a pureza de qualquer modelo político ou cultural como matriz absoluta é insano, e muitos professores já o sabem. É que estes percebem as reações imediatamente seguidas de ocorrências permanentes, ao passo que quem está longe da rotina de uma sala de aula, não possui essa percepção. E se enganaria muito mais ao tentar erguer aquele tal edifício perfeito - longe disso... -, porque nunca estiveram afeitos a ouvir o que os verdadeiros professores, mestres de ofício, sabem ou pensam.

Muitos de nós já sabemos do erro de se projetar soluções desta natureza, e temos experiências históricas para nos reavivar a memória. Contudo, ainda há quem insista em introjetar ideologias à força, mas devem saber que o caminho das soluções à condição naturalmente humana, é considerar o poder manifesto por todos e em contínua interatividade.

Historicamente sabemos que toda vez que um extremo controle atinge seu ápice, revoluções emergem como que um choque que abala, transgride, corrompe e traz prejuízos. Quando o controle persiste, acaba em descontrole, e aí, uma reação derivada vem à tona: as 95 teses de Lutero, 1517; a Queda da Bastilha, 1789; a Revolução Russa, 1917; a Quebra da Bolsa de Nova Yorque, 1929; o 11 de Setembro, 2001; a crise do mercado norte-americano, 2007 etc.

Os físicos bem compreendem que se a força se concentrar num único campo, o desequilíbrio gerado busca uma nova revolução a fim de restabelecer o equilíbrio. Desta forma, a força, portanto, em toda natureza sensível, não deve se concentrar num único extremo. Incrivelmente, acreditando quase de forma ingênua ser nossa especificidade social um algo de energia diversa, relutamos em considerar essa lei. E apesar de toda memorável experiência, ainda há uma forte tendência em resolver as coisas no velho estilo, tanto na pretensão de um extremo como do outro.


Militarismo brasileiro x hippiesmo – o que esteve em jogo e qual foi o legado?


...já que um dia montei, agora sou cavaleiro,
laço firme e braço forte, num reino que não tem rei.
(“Disparada” - Geraldo Vandré e Theo de Barros, 1966)


A fim de conter o senso crítico que avançava velozmente no seio da sociedade brasileira e, sobretudo, no intuito de refrear as ações somadas que ameaçavam as estruturas políticas e econômicas daquele momento, eis que a última instância de controle foi ativada e posta em jogo, não como uma “bola da vez”, mas como o eixo principal e salvador de um projeto de contenção no Brasil daqueles anos.

O golpe militar de 1964 e dos anos subsequentes, foi sem dúvida um projeto orquestrado pelos interesses controladores de uma tradição que, sem se ter dado conta, agonizava os últimos suspiros de um ciclo histórico que chegava ao fim.

Neste processo, o mundo foi revolucionado pelos ânimos da maioria dos jovens do ocidente. Logicamente, na onda social do hippiesmo, como em outros levantes sociais, o padrão não fora desenhado por todos como a uma articulação inteiramente consciente, mas a partir da safra de seus muitos emanadores. A febre dos psicodelismos se generalizou acompanhada de antigos anseios contidos, e revelados pela ânsia da oportunidade coletiva de uma liberalização sentida, exaltada e possível.

Junto à negativa da persuasão despótica, receosa e pouco lúcida dos militares, pairava, bem debaixo de muitos olhos míopes, um característico entrudo de jovens incontroláveis, subversivos e tomados, como já sabemos, daquele típico impulso meio inconsequente, mas que justamente, também faz a roda girar.

Inconsequentes ou não, o fato é que mudaram os rumos da história mundial. Ao mesmo tempo que controladores arrogantes ultrapassavam limites territoriais com grande mobilidade, também os impulsos daquela geração de jovens avançavam os sinais vermelhos, trazendo com eles símbolos carregados de contestação e, principalmente, extremamente impactantes.


As pessoas na sala de jantar
estão preocupadas em nascer... e morrer
(“Panis et circenses” – Mutantes, 1968)


Cores fortes, de formas sinuosas, cheias e contornadas. Hinos eletrizados, com melodias nostálgicas e esperançosas, surpreendentes e telúricas. Busca pela experiência intensa que ultrapassava o meramente existencial, para muito, muito além do cair de uma montanha-russa descomunal. E tudo isso acompanhado da liberalização daqueles antigos anseios que a sociedade conformada estava habituada a resguardar com resignação: o homossexualismo, o fim dos preconceitos raciais e culturais, o basta ao sexismo, contra a intolerância religiosa, o naturalismo, o naturismo, o comunitarismo.

Foi aí que aprendemos a perceber que, para combater os velhos valores de uma sociedade conservadora, só uma força extravagante e irreverente de jovens determinados o bastante para chocar, unidos, não pela experiência, mas pelo desejo de avançar aos bloqueios.

Este momento histórico de êxtase coletivo permitiu-nos renovar os muitos valores caducos de uma ordem que persistia em prevalecer. Hoje a sociedade que antigos ideólogos contestadores objetivavam, está mais repleta daqueles auspícios, mesmo apesar de toda ação reacionária. E se tais ações permanecem ativas, seja com novas roupagens e em busca de outros instrumentos de poder, é porque também muitos avanços na direção da equidade humana já foram, realmente, possíveis de se alcançar.

Mas temos o dever de alertar com muito cuidado para um ponto de suma importância: “nem tudo o que proveio daquela onda, foram flores”.

Hoje as sociedades e os governos estão muito preocupados com a legalidade do casamento gay, com novas interpretações sobre tolerância na presença do imigrante e ao seu livre trânsito no mundo, dos ecumenismos em detrimento aos fundamentalismos religiosos, com as mais recentes aspirações ambientais em vias de sustentabilidade, com o advento de um presidente negro nos Estados Unidos, com a Lei Maria da Penha ou com o avanço de um movimento tardio de reforma agrária; tudo isso tem validade incontestavelmente positiva e tudo proveio daquele movimento. Mas disso, vejo que dois foram os legados que ameaçam em especial a sociedade brasileira: o desfacelamento da Família e o tráfico internacional de entorpecentes.


Em uma sociedade que historicamente se preocupou com o desenvolvimento de uma identidade própria, rebuscando especialmente nas culturas hegemônicas outro padrão que satisfizesse seus próprios interesses, o desprezo pela exclusão fabricada por parte de seus ancestrais brasileiros ganhava forma de outra tradição: “a tradição brasileira e mascarada da exclusão”, que inclusive, foi por algumas vezes reativada por interesses dominantes estrangeiros. Assim, o gérmen da exclusão passou ignorado pela maior parte das autoridades deste país, mas já estava incubado. E seria sim uma questão de tempo impreciso que estas faltas viessem à tona para exigir a justiça não prestada.


Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial...
(“Fora da Ordem” – Caetano Veloso, 1991)


Então eis que emergiu a mais ou menos recente onda que progride em meio ao som e às cores do hip-hop urbano, desdobrando-se ainda na batida do funk das favelas, juntamente ao armamento fácil e precoce, à banalização da vida e aos desejos consumistas imediatos de um grande contingente de miseráveis, que não por acaso, soçobraram de um longo processo histórico de exclusão. E veio esta onda forjando uma síntese inusitada composta de elementos contemporâneos: as amplas tecnologias que dinamizaram as comunicações, a força do poder de fogo, impulsos acríticos ampliados, massificação no uso de antigas e novas drogas, apologia à violência e ao sexismo. Apesar do choque causado, o hip-hop, o funk, com a pasmificação de um banditismo resgatado, vem com a força de um movimento de autoafirmação provindo também do primeiro e reformando de maneira natural os desequilíbrios sociais.


Há um tempo atrás se falava de bandidos
Há um tempo atrás se falava em solução
Há um tempo atrás se falava em progresso
Há um tempo atrás que eu via televisão
/.../
Oi sobe morro, ladeira córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela
Acontece hoje e acontecia no sertão
quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava outros ainda falam
"Eu carrego comigo: coragem, dinheiro e bala"
Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente
(“Banditismo por uma questão de classe”
Chico Science e Nação Zumbi)


Dessa forma, se o primeiro movimento caracterizou-se pelo choque romântico da rebeldia expressa no liberalismo e nas flores como bandeira, e que também foi importado – lembrando o tropicalismo como sua mais legítima expressão aqui no Brasil –, já o segundo, é igualmente rebelde, mas choca com seu tom ameaçador porque aparece dotado de jovens protagonistas violentamente armados, carentes e exigindo a urgência de socorro. Está aí... Um movimento legitimamente brasileiro.


De um lado o bandido, de outro a polícia...
Agora já era, tá na mão da milícia.
Nós avisamos dos porcos fardados
Mas nego é burro, burro...
E continua votando errado.
Valeu a experiência, valeu até a prisão
Mas o que valeu mesmo foi achar minha missão.
(“Pode acreditar (Meu laia laia)” - Marcelo D2 e Seu Jorge, 2009)


Não esqueçamos de observar o processo: aquele imenso grupo de pessoas ignoradas e controladas, de repente, de acordo com uma série de circunstâncias surpreendentes, tomou vulto de um fenomenal monstro ameaçador, mas não o clássico Leviatã espadado e coroado de Hobbes, e sim uma assombrosa e autêntica Mula-sem-cabeça, descontroladamente cuspindo fogo pelas ventas.

Não é difícil concluir, portanto, que um processo originalmente irradiado antes dos instintos do que pela razão, vem contrapor-se ao estabelecimento de qualquer força absoluta. O equilíbrio é sempre restabelecido, seja de uma forma, seja de outra. E agora, a pergunta: no que apostar então? um coletivo alienadamente conduzido, ou garantida sua liberdade consciente?

Se então, do movimento “hippiesta” nem tudo foi paz e amor, o segundo, com seu caráter aterrador, vem provocar a reformulação de uma nova síntese a partir das exigências de um coletivo quase que inteiramente “zumbi”: a construção de outras formas de conceber e aplicar a justiça. Trata-se aí, ao que tudo indica, de uma ação afirmativa para desenvolver, talvez pela primeira vez, a excelência da educação preventiva no lugar da punição, do punir pelo punir.

A fim de lançar uma reflexão entre os formadores da sociedade, sugiro atenção nesta observação: seriam tais movimentos reformadores disseminados por agentes cheios de carisma e ciência notáveis, que lançam suas sementes aos ventos até encontrar solo fértil, ou será que tudo insurge primeiramente dos ânimos rebelados pelas insatisfações. Eis aqui um ponto importante para nós, pois seria entender o que aflora primeiro na sociedade humana: o instinto ou a razão? Refletir sobre isso pode nos conscientizar mais acerca daquilo que é inato no ser humano, e também, ajudar a compreender melhor nossa função social.


Educação como mero instrumento de manipulação ou manifestação reguladora da equidade humana?

Não tendo uma noção de tais dinâmicas, o professorado enquanto indivíduos participantes, hoje, aqui no Brasil, pouco age por conhecimento de causa. Suas ações têm se diluído na interação das partes e estes passam como elementos mais conduzidos que condutores na concepção do desenvolvimento dos interesses comuns. Vejo a necessidade de se trabalhar para que o professor se veja apto a transcender à condição de reprodutor automatizado, para uma função consciente e ajuizada que atenda aos anseios do conjunto.

Fadar a classe dos professores aos interesses deste ou daquele grupo, é um erro. Primeiro por ir contra ao direito natural das manifestações democráticas e, segundo, por constituir um fomento ao desequilíbrio social.

Se hoje a classe dos professores está enquadrada ao cumprimento de funções tal qual uma peça fria de máquina, deve-se a isso os resquícios da lógica provinda dos governos centralizadores, que vieram trabalhando para estabelecer um amplo projeto de controle acrítico. Mas, uma parte deste projeto se efetivou, e outra não.

É efetivo quando, de fato, a classe dos professores, por exemplo, não consegue superar a antiga lógica política engendrada. Mas não é inteiramente efetivo devido ao caráter próprio e inerente à sociedade, que tende a desenvolver resistências, mesmo inconscientes, quando tais poderes invadem a dignidade que lhe resta. E talvez, geralmente, nem reste assim tanta dignidade, mas a dignidade que sempre resta, acaba por se renovar em mais um movimento inevitável de revolução.

Ora, o que quereria um governo humano que desconsiderasse a atuação de sua parte formadora pensante? Seria então o governo de outro organismo social que não humano, pois nossa natureza é livre e pensante; comporta, como um de seus eixos principais, a instituição Educação. Sem ela a sociedade já não seria humana, mas outra coisa, e no caso desta instituição não ter espaço para desenvolver-se, então já estaríamos falando de um lamentável retrocesso ou desvio.

É preciso ficar sempre atento para o caso de um governo, ou grupo, ou grupos estarem disputando o controle da educação visando a manutenção de seus interesses obtusos e não comuns ao todo - verdadeiro atentado à humanidade. Se houvesse a possibilidade de controle sobre a educação a ponto de neutralizar sua autonomia, o que veríamos seria uma sociedade inteiramente bestializada, acéfala, e se dentro disso ainda restassem formas de produção, não teria por si mais sentido algum à sociedade que concebemos nem à sociedade que almejamos.

Creio que ações de resgate de uma instituição tão fundamental assim, não devam se restringir a mais outro febril coletivo. Antes, necessário que seja acordado, sereno e sóbrio, como justamente evidencia nossa própria tradição, bem como, sobretudo, mnemônica e retórica. E sem tanto desespero, porque na especialidade que nos diz respeito, também nós evoluímos. Mas o que evoluiu paralelamente a esta secular gestação, é um mundo mais democrático onde, afinal, nos encontramos em melhores condições de atuação, o que se constitui num balanço extremamente positivo, porque assim ganham todos.

Colaborar com a formação de uma sociedade menos despótica, menos corrupta e menos gananciosa, seja pelo despertar da ética, da sensibilidade e da conscientização, é a missão que compete ao professor, e todo este trabalho, apesar das tantas crises sofridas, nunca se perdeu, pois é o responsável por grande parte de nossa verdadeira humanidade. Quero acreditar que seja chegado o momento de tocar as autoridades com a luz da coerência, que ensina que esta classe é uma das pedras fundamentais de nossa estrutura, que naturalmente não almeja o poder de controle, e por isso mesmo, merece e necessita o respeito e o apoio de todas as instâncias. O verdadeiro professor, que sente o chamado e se identifica com a causa, é por todos, e não por alguns poucos. Ele reconhece que a verdadeira sabedoria humana reside no equilíbrio das partes.


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